sábado, 7 de novembro de 2015

LULA E FHC - QUANDO UNS SÃO MAIS IGUAIS QUE OUTROS

Não tenho procuração para defender A ou B e penso que crimes de qualquer natureza ou 'tamanho' devam ser todos investigados, independentemente do cargo ou status do suspeito, respeitados todos os trâmites e procedimentos determinados pelo Estado de Direito. Mas vamos lá, um minutinho de atenção para um modesto e simples exercício de análise de discurso. Observem as duas matérias abaixo, publicadas hoje pelo 'Estadão'. Estão na mesma página. A notícia sobre o ex-presidente Lula recebe destaque, está no alto, embora as doações já fossem conhecidas. O título sugere que foi Lula, pessoa física, quem recebeu o dinheiro, e não o Instituto Lula, o que faz muita diferença. A empresa é nomeada - Odebrecht. E quem faz a afirmação tem nome também, é a Polícia Federal, estratégia discursiva que pretende garantir legitimidade à afirmação. Argumento de autoridade. Passemos agora à segunda notícia, que vem abaixo, com menos destaque, embora essa fosse, jornalisticamente, a novidade - pela primeira vez, foram identificados repasses para o Instituto FHC. Notem também que, enquanto lá 'Lula recebeu...', aqui a 'empreiteira doou...'. Faz toda a diferença. Ações atribuídas a sujeitos diferentes. Além disso, a empreiteira não tem nome, é genericamente chamada de 'empresa'. O destinatário da grana é o Instituto FHC, não o ex-presidente FHC. E quem chancela a denúncia é um 'laudo', e não mais a PF. Generalidades, de novo. Pergunto - esse tratamento narrativo absurdamente diferenciado e seletivo é casual? Mera coincidência?

4 comentários:

  1. Por essa e por outras que os jornalões estão moribundos,pensam que nós leitores não percebemos,somos idiotas.

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  2. Mas o pior é que, a não ser quem tem olhos e pensamento treinados para essa análise, que acredito ser a maioria, não percebe mesmo.

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  3. Tudo uma questão de semântica. Todos receberam valores altos, isso é um fato! E não é por eu, direta ou indiretamente, poder usufruir de alguma forma desse montante que isso é o certo. Não, as pessoas se iludem muito facilmente com os políticos sem perceber que são, na verdade, massa de manobra e mais um gado no rebanho. O povo não consegue ver um palmo sequer a frente do nariz e ficam brigando vergonhosamente nas redes sociais para defender políticos. Não interessa que o x governo foi o melhor na história do Brasil quando se usa a máxima dos fins justificam os meios. A conta final quem paga somos nós, não os políticos, que saem ilesos, como sempre!!

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  4. Serei um pouco advogado do diabo, Chico, pelo bom desenrolar do debate. Vejamos:
    1. Há um ponto que esquecemos de lembrar quando analisamos o tratamento jornalístico dado a FHC em comparação ao que é dado a Lula. É que o próprio PT acordou entre os seus, em suas estruturas, que não partiria para um revanchismo contra o que foi o governo do PSDB. Governo que teve alguns escândalos estampados em capas da Veja, conforme nos dá nota o jornalista Paulo Henrique Amorim (http://www.conversaafiada.com.br/pig/2010/10/21/nao-perca-as-melhores-capas-da-veja-coitado-do-fhc-e-o-ej). Vejam: é Paulo Henrique Amorim, o qual - hoje - com certeza não é tucano, quem está a exibir capas de Veja apontadoras de malefícios éticos pessedebistas - corrupção política, portanto. Não foram criadas, pelo PT, entretanto, estruturas na PF, na PGR e no STF para destruir o PSDB, com a competente apuração de suas ilicitudes no governo. Assim, o PT não abriu a caixa-preta das privatizações, para ficarmos no exemplo mais gritante. Gostam alguns de falar, de modo eloquente, que o PT em relação às estruturas jurídicas, foi "republicano" (pobre palavra, coitada...). Foi uma opção referendadora da tal "Carta aos Brasileiros" - o mercado não queria esses escândalos apurados, afinal de contas...
    2. A imprensa simplesmente tem lado, desde sempre, é preciso que se reconheça. Lula nunca foi digerido. Mesmo o Lula/PT que conciliou sua eleição com o sepultamento do lema dos tempos da oposição "raivosa" - a do "Fora FHC" -, o Lulinha Paz e Amor, assim alcunhado pela mesma imprensa que hoje o desanca, impiedosamente.
    3. E o PT segue conciliando. Fica bem claro para os olhos de muita gente boa por aí que há uma clara orquestração - petista - para salvar a cara de Eduardo Cunha (!). Faz todo sentido. Se o PT desistiu de correr para cima, com a faca entre os dentes, do PSDB, seu grande opositor, quando o tempo era "a hora" para se livrar definitivamente do seu grande rival (e talvez sofrendo os revezes do mal-humor do mercado, após...), é com grande naturalidade que vejo o mesmo PT desistindo de dar o golpe fatal no presidente da câmara dos deputados que é do mesmo paritido de seu vice, Michel Temer. Cunha é governo. Olha as contradições da nossa vida política se revelando...
    4. O tratamento que o PT recebe, da parte da imprensa, seguido da rejeição brutal ao governo Dilma, da parte do povo, é produto desses e de outros procedimentos de conciliação de sua trajetória aguerrida com a necessidade de assegurar a tão mencionada governabilidade. Há um já anunciado candidato a presidente - das eleições de 2018! - dizendo que uma certa dose de confronto é necessária, pelo lado do governo contra seus opositores, tudo a fim de garantir a presença do povo do seu lado. Diz ele que se Dilma confrontasse mais e negociasse menos, a aprovação popular a seu governo estaria em alta. Ele afirma que a última reforma ministerial foi um desastre, que Dilma teria colocado uma pletora de ministros nomeados apenas para saquear o país. E a popularidade de Dilma segue em baixa. E o povo já fala em candidatos para 2018. Parece que o embate ocorrido entre o irmão de tal político e o mencionado Eduardo Cunha lhe dá uma boa dose de razão, quando ele diz que seria preciso um pouco mais de confronto. O que você acha, nobre Chico?
    Grande abraço.

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