sábado, 16 de maio de 2015

MANÉ E PELÉ

O primeiro foi meio desajeitado, aos trancos e barrancos, aquele gol típico do atacante trombador. Se não dá na técnica, vai na canela. Faro do artilheiro. Um estourão do goleiro, o meia escora de cabeça, na intermediária. E lá vai o Mané como uma flecha indomável, de bem com a vida, firme e seguro, camisa listrada, 10 nas costas. Tira um zagueiro com leve toque, outro no corpo, com ombrada mesmo. Bate-rebate com o goleirão atônito. Bola rasteira, no fundo da rede. Um a zero. Treze minutos do primeiro tempo. Braços abertos como se estivesse sobre a Guanabara na comemoração com a galera ensandecida. O segundo veio no minuto seguinte. Exatamente, boleiros e boleiras, um minutinho depois, aos catorze. Podem conferir o cronômetro. Lançamento em profundidade para um colega atacante, que trombra com o goleiro. Estão lá dois corpos estendidos no chão. Nada. Normal. Segue o jogo, determina o juizão. Mané não quer nem saber. Entra voando, em diagonal. Alguém cronometrou o tempo? Coisa de fazer inveja a Usain Bolt. Gol. Dele. Camisa 10. Mané. E ainda levou uma rasteira que o lateral esquerdo palmeirense Denys assinaria sem pestanejar (os mais antigos vão me entender. Para quem não conhece, sugiro ver o lance do segundo gol da Internacional de Limeira, final do Paulistão de 1986. O tornozelo do ponta Tato dói até hoje). Mané fez que não era com ele. Levantou e saiu para o abraço. Insaciável, o terceiro veio aos dezesseis de jogo. Pintura. Ao receber cruzamento do lateral, Mané jogou a cintura de lado, preparou o corpo e bateu de direita, de lado de pé. Estilo retumbante. Aquela chapa que estufa as redes. O encontro do couro com as cordas, barulho sutilmente estrilante que leva torcedores ao delírio e faz ecoar aquele "gooll" único pelo estádio. No ângulo. Três gols em três minutos. Mané. Não, não eram os russos. Nem ele tinha combinado com os adversários. Mas, diante do camisa 10, eram todos joões. O quarto gol, ainda no primeiro tempo, foi do coadjuvante Long. Bem, se ele é longo, Mané nasceu em Pau Grande. Durmam com um barulho desses. O adversário tentou estrebuchar ainda. Tento de honra. Foi só. Long decidiu mostrar que não estava para brincadeira. Anotou o quinto. Bela pedrada também, de longe, arqueiro adiantado, cobertura. Renascentista. Mané não faria melhor. Faria? Provável. Façam as apostas. Lance especial ainda estava por vir. Atenção. Faltando dez minutos para o fim da festa, Mané cruzou para Pelé resolver a parada. Demais! Acabou! Seis a um para o Southampton contra o Aston Villa. Penúltima rodada do Campeonato Inglês. Mané, o senegalês, correu para abraçar o companheiro de time - o italiano Pellé. Coincidências da bola. Lamento frustrá-los, boleiros e boleiras. O Mané era outro; Pelé, também. Sou saudosista confesso. Há quem diga mesmo que eu deveria ter nascido a tempo de ver futebol nos anos 1960. Arte. Sou dos 70, geração coca-cola, não, não vi Mané, o genial Garrincha, jogar com Pelé, o insuperável Edson Arantes do Nascimento. Por uns triscos de frações de segundos, no entanto, cheguei a achar que a minha telinha da TV estava hoje transmitindo, em branco e preto, algum jogo da velha Canarinho. Aquela que não sabia o que era perder de 7 x 1.

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