quinta-feira, 5 de março de 2015

MATA-MATA GLOBAL

Sou favorável ao Brasileirão disputado no sistema de pontos corridos, mas reconheço que há razoáveis argumentos esportivos e boleiros para defender o mata-mata.
O que me incomoda profundamente e me deixa muito irritado é que a virada de mesa que está sendo comandada pelos próprios clubes (inteligentíssima, a CBF apenas observa o barco andar, para não se queimar ainda mais) leva em consideração apenas e tão somente a força da grana que ergue e destroi coisas belas e as pressões da emissora que monopoliza os direitos de transmissão do campeonato, preocupadíssima com a sangria de audiência que vem conhecendo.

Será que algum iluminado gestor (adoro essa palavrinha...) do nosso futebol pensou, ainda que por uma fração de segundo, em levar em consideração o que pensa o pobre torcedor (como escreveria Nelson Rodrigues), aquele tolo aficionado e incorrigível apaixonado que continua, a duras penas, a frequentar os estádios e as arenas, e que certamente terá seu orçamento doméstico ainda mais abalado por ingressos nas finais que certamente não serão vendidos a preços módicos?
Não conseguem perceber, nossos competentes dirigentes, que não há fórmula de disputa capaz de garantir espetáculos em campo (e arquibancadas lotadas, e televisores ligados nos jogos...) quando 698 boleiros abandonam os clubes brasileiros e partem para as mais diferentes regiões do planeta bola (China e "mundo árabe" são as bolas da vez)?
Com o torcedor, principal patrimônio do futebol, ignorado e achincalhado, e com a escassez cada vez mais gritante e angustiante de artistas habilidosos e mágicos em campo, mudar agora o sistema de disputa só servirá mesmo para reforçar os poderes (e o caixa) de quem manda há muitos anos nessa trolha.
Como se percebe, com tal domínio global, os resultados não têm sido - e continuarão não sendo - bons, ao menos para aqueles que gostam do futebol de verdade.
Danem-se esses saudosistas anacrônicos e românticos. Os tempos são outros. O mundo é dos espertos. O futebol? Um grande negócio. Para poucos. Gol da Alemanha.

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