domingo, 31 de março de 2013

POR QUE LEMBRAR O GOLPE?



Porque não dá para esquecer que os militares, com apoio de setores significativos da cantada em verso e prosa sociedade civil e com respaldo dos Estados Unidos, derrubaram um governo que havia sido democraticamente eleito, quase quatro anos antes. Foi um golpe, jamais uma revolução.

Porque não é possível perdoar as torturas, os assassinatos e os desaparecimentos patrocinados pelo aparato estatal que foi montado pela ditadura civil-militar que se instalou no Brasil após o golpe de Estado.

Porque não se tolera a censura que amordaçou e proibiu livros, canções, peças, filmes e matérias de jornais, interrompendo criminosamente a atmosfera de criatividade e efervescência artística que o Brasil vivia nos anos 1960, deixando como nefasta consequência um rastro de destruição da produção cultural e intelectual brasileira.

Porque os defensores da Educação Moral e Cívica iniciaram o movimento de sucateamento da educação pública brasileira, substituindo o "livre pensar e transformar" pelo "consumir e dar-se bem" como valores hegemônicos de nossas escolas, em todos os níveis.

Porque muitas das empresas de comunicação que hoje respiram os ares da democracia foram ativamente coniventes com o regime de terror, fosse mostrando em horário nobre televisivo que "tudo ia muito bem, obrigado, no Brasil"; fosse emprestando viaturas disfarçadas para transportar presos políticos para centros de tortura; ou fosse ainda publicando como verdadeiros os falsos informes da ditadura a respeito de "terroristas mortos em confronto com a polícia", quando na realidade os militantes de esquerda estavam sendo trucidados nos porões do regime.

Porque vários empresários com sobrenomes conhecidos auxiliaram a máquina de terror, vigiaram funcionários, delataram estudantes e financiaram a tortura. Alguns desses sujeitos, aliás, bastante sádicos, se regozijavam vendo os opositores da ditadura sendo arrebentados pelos trogloditas de plantão, fardados ou não.

Porque vivemos ainda os ecos da ditadura, em várias e diferentes esferas e dimensões. O que dizer, afinal, das torturas sistemáticas como prática naturalizada em nosso falido sistema prisional e das polícias militares que insistem em usar gás lacrimogênio para reprimir estudantes e movimentos populares?

Porque, entre parcela significativa de nossos jovens, sobrevivem - e se amplificam - os desejos ardentes de "ordem, autoridade, pega, mata e esfola", a flertar perigosamente com os germes de intolerância do fascismo.

Porque é preciso pressionar a Comissão da Verdade a, de fato, resgatar e publicizar a verdade histórica.

Porque uma sociedade que não cuida de suas feridas, permite que se apague sua memória e nega sua história não consolida sua democracia. 

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