terça-feira, 4 de setembro de 2012

DEZ PERGUNTAS SOBRE OS INCÊNDIOS EM FAVELAS DE SP

Fonte - spnoticias.com.br

Mais um incêndio atingiu ontem mais uma favela da cidade de São Paulo - desta feita, as vítimas foram os moradores da Favela do Piolho, no bairro do Campo Belo, na zona sul da capital, numa área que fica próxima, bem pertinho mesmo do aeroporto de Congonhas, imponentemente encravado em região nobre da metrópole. Em 2012, foi o trigésimo segundo incêndio dessa natureza em São Paulo (média de quatro por mês); já tinham sido registrados outros 79, no ano passado. Só ontem, quase 300 casas foram destruídas e mais de mil pessoas ficaram desabrigadas. Não tenho, confesso, condições de fazer afirmações. Mas, como sugeria e ensinava o filósofo grego Sócrates, ao reconhecer que "só sei que nada sei", posso fazer perguntas. Questionar não ofende. E ajuda a pensar. Minhas dúvidas:

1) Será que a Prefeitura de São Paulo nos considera mesmo tolinhos e imagina que vamos acreditar, num exercício de fé profunda, que os incêndios são apenas coincidências, lamentáveis tragédias?

2) Incêndios em favelas nessa quantidade acontecem em alguma outra cidade do planeta? Ou São Paulo é um foco isolado, um ponto fora da curva, uma "metrópole incendiária exclusiva"?

3) Será que apenas os moradores de favelas não sabem acender o gás ou riscar um fósforo, não sabem lidar com o fogo?

4) Por que essa mesma quantidade de incêndios não acontece em condomínios de luxo dos bairros nobres da cidade?

5) Por que a Prefeitura paulistana, à época da administração de José Serra, desativou o Programa de Segurança contra Incêndio, implantado durante a gestão da prefeita Marta Suplicy e que tinha como propósito justamente desenvolver ações de prevenção e orientação especificamente em favelas? E por que o atual prefeito, Gilberto Kassab, não retomou o programa?

6) Por que os bombeiros e as demais autoridades públicas responsáveis pelas investigações não conseguem explicar ou definir as causas e os responsáveis pelos incêndios, com os laudos finais invariavelmente apontando para "motivos indeterminados"?

7) Será que o que de fato move esses incêndios é uma deliberada política de higienização e limpeza social, destinada a expulsar os moradores das favelas, que "enfeiam as paisagens", para aproveitar os terrenos finalmente "limpos" para a especulação imobiliária, tornando assim a fotografia da capital "mais bela e atraente"?

8) Por que nenhum jornal de referência e de grande circulação faz as perguntas que devem ser feitas, com intuito de construir a melhor versão possível da realidade?

9) Por que os repórteres de emissoras de rádio e de TV que transmitem informações ao vivo sobre os incêndios (incluindo os repórteres aéreos) parecem sempre mais preocupados com os reflexos dos incêndios sobre o trânsito, em apontar rotas alternativas para os motoristas, do que em dedicar atenção às vítimas das tragédias (muitas fatais) ou à destruição de casas e de sonhos?

10) Por que nos acostumamos aos incêndios nas favelas e passamos a considerá-los algo "natural, normal", como se já fizessem parte da paisagem urbana e do cotidiano da metrópole, aceitando resignadamente a banalização da tragédia e da violência? Em que lugar do passado ficou perdida nossa capacidade de indignação e de reação?

6 comentários:

  1. Chico... dê uma olhada no relatório de gastos da PMSP em 2011 com relação a infraestrutura da cicade:

    http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/habitacao/arquivos/Resolucao%20n%2007%20de%2022%20de%20junho%20de%202012%20%20Prestacao%20de%20Contas%202011.pdf

    Atenção aos dados da sexta folha do documento, gastos com o programa municipal "PREVIN". Explica, um pouco. E mostra muito da face desta política kassabista.

    ResponderExcluir
  2. Não há interesse em cuidar do povo pobre dessa cidade

    http://www.youtube.com/watch?v=MVNq0dl2Kcg&feature=plcp

    ResponderExcluir
  3. Relaxa, agora sai outra avenida, larga, bonita, pra aumentar o trânsito...

    ResponderExcluir
  4. Muita calma nessa hora ... acusar de eugênia acho um pouco forte. Quanto a especulação imobiliária ... bem provável ... Ainda deve ser considerado nesse contexto a cultura do povo que infelizmente baseia-se na famosa Lei de gerson ... de gato em gato vão se construido bombas relógios urbanas, com ligações elétricas perigosas em meio a materiais altamente inflamáveis ...

    ResponderExcluir
  5. Celso, sou obrigado a discordar por duas razões:

    1-"Gatos" como os de São Paulo também acontecem no Rio de Janeiro, e em outras grandes cidades do Brasil e do Mundo. Todavia, o número de incêndios, praticamente um por semana, só acontece em São Paulo.

    2-Desde a "limpeza" da Cracolândia, seguida pelo ataque ao Pinheirinho, a "limpeza" da 25 de Março e outros episódios menos comentados, nota-se bem a total falta de preocupação com os pobres. Note-se bem, que se não eram kassabistas, eram tucanos ou "democrápulas" no poder dessas cidades, e tais medidas contavam com apoio do Picolé de Chuchu e do Vampiro Brasileiro.

    ResponderExcluir